Testemunho - Esperança no controlo
Passar de uma aparência completamente normal como todas as raparigas da minha idade, para uma aparência que desconhecia até então…

Chamo-me Maria João, tenho 23 anos e sou natural de Viana do Castelo. Sou trigémea e sofro de DA (Dermatite Atópica) desde recém-nascida. Não me recordo dos primeiros anos de vida com DA, tirando o facto de a minha mãe me ter dito que, tanto eu como os meus irmãos tínhamos de colocar constantemente pomadas com corticoides tanto quanto cremes hidratantes. A minha mãe nessa altura só podia comprar roupa 100% algodão, o que era outro acréscimo nas despesas.
Com o passar da idade, a minha DA melhorou bastante e durante este tempo sempre tive DA ligeira. Acabei por ter uma infância bastante feliz e tranquila sem sinais fortes da DA.
Contudo, a minha vida deu uma volta de 180 graus quando iniciei a minha vida académica em Évora. M udei-me do Norte, Minho, onde sempre estive e vivi, para passar a viver no Alentejo com um clima completamente diferente.
Com o agravar da DA, sofri bastante em termos físicos e psicológicos visto que o meu corpo piorava a cada dia. Estava sozinha sem a ajuda dos meus pais, sem a ajuda de qualquer especialista, quer de dermatologia como de imunoalergologia. Só conseguia ser acompanhada e medicada quando voltava a casa para as pausas de semestre.
A cada ano sentia que a minha DA piorava, passei muitas noites sem dormir com as dores, os “picos” sentidos no corpo, a roupa que já não conseguia vestir devido às lesões da DA, o fedor a podre a sair do corpo, a pele morta colada à roupa e a sair por todos os lados, era um horror... Muitas vezes não me conseguia vestir, nem andar e mesmo assim, tinha que sair de casa e ir todos os dias para a faculdade como se nada fosse, estando fisicamente e psicologicamente no estado mais lastimável e desgastado que alguma vez pude estar e sentir.
Era uma sensação horrível não conseguir mais olhar para o espelho e ver aquele corpo todo seco, cheio de manchas, pele a descamar por todos os lados, feridas e lesões em sangue e com pus, constantemente. Negava para mim mesma e sentia que aquilo não era eu, não podia ser eu, porque eu sempre estive bem, sempre fui uma rapariga saudável, bonita, enérgica e tudo mais.
Era a pior sensação do mundo estar na mesma casa que o meu namorado, onde era ele que tratava de mim. Dava-me banho, fazia todas as tarefas domésticas, colocava as pomadas e cremes no meu corpo, mesmo no meu pior estado… O não conseguir dormir e estar na mesma cama que a outra pessoa devido à comichão e picadas no corpo a toda a hora e minuto, o mau odor que saía dele e muito mais… Questionava-me muitas vezes, como é que é possível alguém olhar para mim, estar comigo e tocar-me, se nem eu própria me conseguia olhar ao espelho. Quando o fazia, chorava em frente a ele perdidamente, sentindo que aquela não era eu e só pedia a Deus para aquele inferno acabar e voltar a ser a mesma pessoa que era antes.
Passei pelas mãos de imensos médicos, receitavam-me todos as mesmas coisas, pomadas com corticoides, cremes hidratantes, isto e aquilo e mesmo assim nada dava resultado. Todas as vezes que ia a alguma consulta lá iam os meus pais gastar mais de 100 euros para nada, porque eu já sabia que não ia dar resultado… O meu corpo rejeitava tudo, nada me fazia melhorar. Cheguei a tomar corticosteroides via oral e foi uma bomba para o meu corpo, engordei mais de 5 quilos, ficava com retenção de líquidos e infeções urinárias e tinha constantemente de fazer análises ao sangue e medir a tensão todos os dias. Acabei por parar o tratamento e voltei aos tópicos, pomadas e cremes com corticoide.
Neste momento, estou a ser seguida no Porto e em Viana do Castelo pelos meus médicos de Imunoalergologia, onde espero poder ter acesso aos tratamentos até à data aprovados para Doentes com DA Moderada a Grave como eu, são a ESPERANÇA de voltar a sentir-me a mesma pessoa Saudável e Feliz que sempre fui.
Tenham sempre FÉ e ESPERANÇA porque o Dia de Amanhã poderá ser sempre melhor, e cada dia é uma conquista!!!
Maria João Barreto, Associada da ADERMAP
Criado: 15-08-21 | Última atualização: 15-08-21